Algures em Portugal moravam juntos 5 irmãos, do mais velho para o mais novo: o Pedro, o Tiago P., a Cristina Raquel, a Beatriz e o Carlos.

Os seus pais tratavam-nos de maneiras diferentes. Enquanto a Mãe dizia que tinha 5 filhos e que eles eram como os dedos das mãos: todos diferentes, mas gostava de todos por igual, o Pai tinha uma clara preferência pelo mais novo.

Era ao Pai a quem cabia a distribuição da comida pelos irmãos. À sobremesa havia sempre uma tarte. O Pai deixava sempre uma fatia pequenina para o mais velho, o Pedro, e o resto da tarte para o Carlos. Os restantes três irmãos comiam as migalhas que o Carlos deixava.

O Tiago P., que era o mais forte e podia carregar toda a família, ficava revoltado, mas o Pai mandava-o sempre calar e ele cumpria. A Cristina Raquel e a Beatriz diziam que queriam uma fatia da tarte e não apenas as migalhas. O Pai chamava-as de extremistas, exageradas e maluquinhas. O Pedro dizia que a fatia era pequenina e que queria algo maior um bocadinho, mas o Pai dizia para se contentar com o que tinha, que era melhor que nada.

Um dia a mãe fartou-se desta desigualdade e trocou o Pai por uma outra pessoa com uma visão mais igualitária. Essa pessoa, que fazia a mãe feliz, passou a tratar os irmãos por igual, e a dar uma fatia da tarte a cada um.

Pois bem, tal como nesta família havia injustiças, também no espaço público as há. A mãe é a cidade, o Pai é o Executivo Municipal e os irmãos são, o Peão (Pedro), o Transporte Público (Tiago P.), a Cadeira de Rodas (Cristina Raquel), a Bicicleta (Beatriz) e o Carro (Carlos). É injusto o Carro (Carlos) “comer” a tarte quase toda e deixar as migalhas para os outros irmãos.

Não queremos apenas migalhas, como as que têm vindo a ser dadas em Portugal. Queremos uma fatia da tarte também para quem anda a pé, de bicicleta e de transporte público. Para isso, às vezes, é preciso mudar as pessoas que gerem a cidade, porque a cidade merece ser bem tratada.