As alterações climáticas trazem consigo fenómenos que são cada vez mais evidentes. Temos dias demasiado quentes em pleno inverno, temperaturas record em vários pontos do planeta, desde o Alentejo Português, até à Tailândia, e temos de repente uma imensidão de água a cair dos céus que causam cheias sem precedentes, que levam milhares de italianos ao desespero, ou a pontes que não conseguem escoar tanta água e ficam intransitáveis como em Ourense no fim de semana passado. E ao mesmo tempo, temos já uma parte do país com problemas de armazenamento hídrico (Barlavento, Sotavento, Arade e Mira), e ainda estamos a começar Junho.

Numa altura como esta as cidades mudam os seus paradigmas da mobilidade, fazendo mudanças grandes nas principais avenidas das suas cidades, acabam com túneis e viadutos que existissem e passam a ter ciclovias, corredores dedicados para transportes públicos e passadeiras semaforizadas. E, para além disso, tornam-se cidades esponja. Ou cidades jardim. Aproveitam as águas da chuva para a rega, ou para os sanitários. Criam zonas que em dias secos são praças e em dias de muita chuva são reservatórios de água. Fazem por ter árvores de grande porte nas ruas, para refrescar quem ali circula a pé e de bicicleta.

Por cá, vivemos numa cidade cada vez mais impermeabilizada. O atual centro da cidade é a Rotunda das Piscinas, e o problema que há no centro histórico em dias de calor, existe também no atual centro da cidade: é impossível lá estar, tanta é a falta de sombra. E nos dois sítios há muita poluição -no centro histórico devido ao túnel que extrai os ares poluídos para a superfície – e muita exposição solar no verão.

No inverno há cheias no centro da cidade. O túnel das Piscinas fica intransitável, a rotunda também, o Braga Parque tem as bombas a tirar água do estacionamento e do antigo chinês também. A ribeira que vai das Sete Fontes ao Rio Este ainda se via à superfície entre a Rua Nova de Santa Cruz e a Rodovia. Esse troço que ainda estava no seu estado natural e permitia conter algum excesso de água, está agora a ser também encanado, e por isso tudo vai piorar À superfície em dias de chuva. Não esquecer ainda que o túnel está numa cota abaixo do Rio Este, fica óbvio perceber para onde vai descer a água. É preciso coragem para acabar com aquele túnel e criar ali uma verdadeira avenida, que consiga absorver o excesso de água, que tenha ciclovias, que tenha vias dedicadas ao transporte público, que tenha atravessamentos de nível e que tenha sombras e árvores de grande porte.

Para além dessas grandes Avenidas e Praças, é preciso que a cidade tenha lugares de repouso, de silêncio, de fruição. Parques e Corredores Verdes. Zonas sem carros, onde as pessoas possam estar, possam conversar, ou simplesmente usufruir do silêncio. A cidade devia ter muitos desses locais, mas não tem. Devíamos conseguir ouvir o chilrear dos pássaros nas ruas das nossas cidades. Já repararam que é algo muito raro de conseguirmos ouvir?

Já não falo do cumprimento legal de zonas verdes, que deveria ser o mínimo dos mínimos. Braga cai no ridículo de considerar as rotundas relvadas como “zonas verdes” para tentar alcançar os mínimos legais, e nem assim consegue.

Temos cidades em que no mínimo há um parque verde a 300 metros de cada morador. Temos cidades com corredores verdes que permitem às pessoas fazer praticamente todas as deslocações num corredor silencioso, fresco, com natureza, saudável. E temos Braga, onde quem faz estudos para implementar corredores verdes na cidade acaba “encostado” dentro do Município.

A cidade precisa de muitas mais zonas verdes como tem no Complexo Desportivo da Rodovia ou no Parque da Ponte. Precisa de um efetivo Parque das Sete Fontes sem prédios a dar cabo dos aquíferos. Precisa manter as Tílias que plantou na Rua Luís Soares Barbosa e não voltar a abater Tílias como em 1994. Precisa de mais árvores nas ruas e de menos asfalto. Braga precisa de ser mais verde.Antes de dedicar tempo a algumas mudanças comportamentais, é preciso reorganizar a infraestrutura e criar as condições para essas alterações. A mobilidade e os comportamentos induzem-se.