O Bairro da Alegria é conhecido por quase todos os Bracarenses, ora pela descida dos carrinhos de rolamentos, ora pela rampa da alegria, mas sobretudo pelo seu histórico clube, os Alegrienses. Hoje venho falar de mobilidade e acessibilidade de toda essa zona.
O Bairro da Alegria, engloba a zona mais densamente povoada do Concelho de Braga, e onde temos três eixos principais ao nível da mobilidade.
A Rua Fernando Oliveira Guimarães, vai da Rotunda do Braga Parque até à Rua Quinta da Armada. A rua é larga, o seu perfil chega a ter 30 metros. Renovaram a mesma há umas semanas e introduziram ligeiras melhorias ao nível pedonal, que se resumiram a sobrelevar passadeiras. A rua continua sem vias bus, numa rua servida pela linha 74, que ali passa de 15 em 15 minutos. A largura das vias continua a convidar a excessos de velocidade.
A Avenida Antero de Quental liga o Braga Parque ao Parque Eco Monumental das Sete Fontes, com uma largura de 21 metros, rasga a zona com maior densidade populacional de Braga, tem comércio, serviços e o maior shopping do Distrito. Só metade da Avenida foi intervencionada e mesmo nessa metade os passeios mantêm-se esburacados. Essa intervenção poderia ter servido para criar condições para a circulação de velocípedes e de transportes públicos, mas até o estacionamento no meio da faixa de rodagem, sem acesso a pé, se manteve. Não foi introduzida nenhuma medida de gestão do estacionamento.
O terceiro eixo, a Rua Quinta da Armada é o coração do Bairro da Alegria, que vai desde a Fábrica Confiança até ao Hospital.
Esta rua tem um perfil mínimo de 7,5 metros, e o perfil máximo de quase 20 metros. Entre as Bolas de Berlim e a zona das Verdosas, a largura é quase sempre a mínima: 7,5 metros. Esta extensão é o dobro da Rua D. Pedro V.
A Rua Quinta da Armada é servida por 3 linhas dos TUB, nos dois sentidos. Linhas com frequências de 15 e 20 minutos. Circulam 16 autocarros por hora.
O Município de Braga decidiu ainda marcar lugares de estacionamento nesta rua, privilegiando o estacionamento automóvel na via pública em detrimento de fazer passeios.
Numa rua mais estreita do que a Rua D. Pedro V e a Rua Nova de Santa Cruz há, e bem, os dois sentidos de transporte público, mas continua sem ter passeios, porque é dada prioridade ao estacionamento automóvel no espaço público.
Subir ou descer a Rua Quinta da Armada a pé, das Verdosas até à Confiança, é um ato de coragem e um desafio à integridade das pessoas.
Aquilo que seriam os “passeios” chegam a ser só a guia. Não há pessoa que consiga andar ali a pé, muito menos de carrinho de bebé ou cadeira de rodas. As crianças do JI e EB1 do Bairro da Alegria não conseguem aceder à escola a pé. Aliás, a situação é de tal forma grave, que quando há saídas a pé, a coordenação da escola solicita o apoio da polícia para escoltar o percurso na Rua Quinta da Armada. O pedido de escolta deve-se à infraestrutura pedonal débil ou inexistente. Uma pessoa em cadeira de rodas, ou com um carrinho de compras ou de bebé, não pode circular por ali a não ser na estrada.
Certo é que em 2020 foi apresentado à população, pelo Município de Braga, um projeto para a requalificação integral da Rua Quinta da Armada, com a promessa de início de obra no ano seguinte. Até hoje nada foi feito na Rua Quinta da Armada.
Não podemos apenas dizer que queremos mais pessoas a andar a pé, de bicicleta e de transporte público, e depois na hora de fazer as melhorias para induzir essas formas de deslocação, preferir introduzir estacionamento no espaço público, em vez de condições de circulação destes três modos. Ou damos prioridade ao transporte individual, ou damos prioridade aos três modos de transporte sustentável.
Quando não há espaço para tudo, é preciso fazer opções, que devem seguir o discurso que temos. Caso contrário, estamos apenas a enganar as pessoas.
A mobilidade induz-se.