As fronteiras entre Concelhos não estão sinalizadas, mas sabemos que estamos em Braga quando vemos um autocarro ou uma paragem dos Transportes Urbanos de Braga
Não há dúvida de que os TUB chegam a todo o Concelho e, enquanto serviço público, considero importante que o façam. Praticamente toda a população tem uma paragem dos TUB a menos de 300 metros de sua casa. É uma realidade. Mas só isso não é suficiente.
É preciso que haja serviço. Haver serviço é ter frequência nas linhas, isto é, o autocarro passar várias vezes na paragem a horas, sem atrasos e sem adiantamentos.
Mas o que é que se considera um serviço atrasado, adiantado ou inaceitável? Um serviço atrasado é aquele que chega à paragem para lá da hora prevista num máximo de três minutos. Um serviço adiantado é aquele que chega à paragem antes da hora prevista, num máximo de um minuto.
O autocarro que passa na paragem mais de um minuto antes da hora prevista ou um autocarro que passa na paragem mais de cinco minutos depois da hora prevista, então considera-se inaceitável.
Isto são os indicadores de qualidade de serviço de transportes urbanos em cidades europeias. Uma empresa certificada em vários normativos sabe isto.
Hoje temos mais de 90% das linhas regulares dos TUB com níveis de serviço inaceitáveis.
O motivo não são apenas as obras da cidade, nem os mais 20 mil carros que passaram a circular este ano em Braga. O motivo é a inexistência de vias BUS reservadas e com prioridade semafórica para os autocarros.
A via BUS da Rua do Raio, depois da remoção dos mecos, passou a ser uma via de circulação de automóvel, pois a via da esquerda serve de estacionamento em 2.ª fila, desde a sede do PSD até à Vodafone. A via BUS do colégio D. Diogo de Sousa não vai de rotunda a rotunda para dar prioridade a estacionamentos automóveis. A via BUS na Avenida 31 de janeiro só existe temporariamente e nem a conseguiram fazer em toda a sua extensão.
Podemos, portanto, dizer que a cidade de Braga não tem vias reservadas ao transporte público, que o tornem competitivo e garantam que este cumpre os horários.
O trânsito automóvel leva os TUB a níveis de serviço inaceitáveis, não cumprem qualquer horário. Mas isto só acontece porque o Município não cria as condições necessárias para que o transporte público seja efetivamente competitivo e atrativo. Qual é o resultado? Perda de clientes e de credibilidade.
A população de Braga aumentou. A taxa de crescimento, de 2011 para 2021, foi de 6,52%. Mas passamos a ter mais pessoas a usar o autocarro? Não.
Olhar para o indicador “Passageiros Transportados” é olhar para uma falácia. Porque simplesmente a partir dele sabemos quantos títulos foram validados num determinado período. Ora se uma pessoa que usava o autocarro 4 vezes por dia e passou a usar 6 vezes por dia, isso vai traduzir-se em “mais passageiros transportados”, mas na verdade, não há mais pessoas a usar o transporte público.
E mesmo assim, se olharmos para número de passageiros transportados por km, nunca houve um valor tão baixo, desde 2008, como o de 2022 (ignorando os anos da pandemia Covid19). Em 2008 os TUB já transportavam 2,10 passageiros por quilómetro percorrido, em 2022 regrediram para 1,79 passageiros por cada quilómetro percorrido.
A explicação para a falta de atração de passageiros e uma maior quota modal do transporte público é simples: falta de infraestrutura dedicada.
Um exemplo: das Camélias à Senhora-a-Branca são 2 quilómetros, um percurso de 10 minutos de autocarro e de 30 minutos a pé. Uma pessoa que entre ao trabalho às 9h, tem que apanhar o autocarro das 8h para ter a certeza que chega a horas, porque, numa linha que passa de 15 em 15 minutos, como a Linha 74, não tem garantias que o autocarro passa mesmo às 08h45 nas Camélias, e não tem garantias que às 08h55 chega à Senhora-a-Branca. No regresso pode demorar uma hora e meia! Inaceitável.
A Avenida da Liberdade, a Avenida 31 de Janeiro, a Avenida Padre Júlio Fragata, a Avenida João Paulo II, a Avenida João XXI, a Avenida Imaculada Conceição, a Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, já deveriam há muito tempo ter vias dedicadas ao transporte público e ciclovias. Não têm porque a Câmara Municipal de Braga não quer.
Não podem continuar a atirar-nos areia para os olhos dizendo que o serviço de transporte público agora está muito melhor. Não está, e se não fizerem nada rapidamente ao nível da infraestrutura, mesmo antes de um qualquer “BRT”, o serviço dos TUB continuará a degradar-se.
Braga precisa de mudanças rápidas e eficientes na infraestrutura. Pequenas vitórias para os modos sustentáveis. Não basta ter o discurso afinado, é preciso ter a ação afinada também.
Um serviço de qualidade é um serviço que atrai mais pessoas. A mobilidade induz-se.