Há no seio do Executivo Municipal, e de outros elementos da Coligação Juntos Por Braga, alguns argumentos que têm sido utilizados, recorrente e repetidamente, desde 2013:
- “Não se mudam as coisas de um dia para o outro”
- “A culpa é das pessoas que não querem mudar o comportamento”
- “Não há dinheiro”
O Município, os elementos do Executivo e alguns Técnicos Municipais vão tentando passar a ideia de que Braga é uma cidade “na Vanguarda da Mobilidade”, um “exemplo de mobilidade”, que faz “esforços para descarbonizar a cidade” e que “mais não é feito porque é preciso tempo para fazer as coisas”. Tudo frases e argumentos utilizados publicamente
Não vemos vanguarda nenhuma, bem pelo contrário, não conseguem aplicar as coisas que, supostamente, as pessoas têm ido aprender às cidades europeias a que se deslocam. Braga, o Município, não acarinha quem anda a pé e de bicicleta, destrata essas pessoas, e isso basta andar na rua, a pé e de bicicleta, para perceber as condições que hoje temos para o fazer.
E quando Braga diz que está a fazer um grande investimento e uma forte aposta nos transportes públicos, utilizando como facto a renovação da frota que está a fazer, é outra falácia. Outro argumento que esbarra na realidade. Porque com uma frota 100% nova e a circular na mesma infraestrutura que o carro, o que vai acontecer é o que acontece hoje em dia: atrasos de mais de meia hora, viaturas suprimidas e uma utilização que passa apenas por aqueles que não têm mesmo hipótese de ir de carro ou estão desafogados de horários.
Enquanto não se aceitar isto e se derem reais condições infraestruturais para os transportes públicos, as pessoas que têm rotinas diárias não vão usar, porque o sistema é demasiado falível no cumprimento de tempos de percurso. E podem até pôr o Transporte Público grátis para todos, se ele não cumprir horas nas paragens e se não for diariamente certo e rápido no tempo que demora do ponto A a B, as pessoas não usam.
“Ah mas aumentaram o número de Passageiros Transportados”. Com o aumento do número de pessoas a viver em Braga, aumentou o número de deslocações. Só em 2023 há mais 20 mil novos registos de seguros automóveis, em Braga. Não está a haver transferência modal para o transporte público.
Há uma falta efetiva de aposta na mobilidade sustentável, falta de aposta nos três modos de transporte da mobilidade sustentável.
“Ah mas fizemos as zonas 30, aumentamos a rede ciclável, melhoramos alguns passeios, temos frota nova dos TUB, retiramos passagens áereas e subterrâneas, …” Tudo verdade. Fizeram algumas coisas. Mas quando nos lembramos que o lider da Coligação Juntos Por Braga é Presidente da Câmara desde 2013, ou seja, há 10 anos, percebemos que a lista de coisas que fizeram, e a falta de critérios, de cuidado, de envolvimento da população, de imposição, de ostracização dos movimentos associativos e de defesas de causas, chegamos à conclusão que é demasiado pouco.
Sim, é verdade que os 37 anos de poder do PS deixaram uma cidade com um modelo urbanístico que estava desatualizado. O grande desafio era, em 2013, atualizar esse modelo, redistribuir espaço, recuperar tempo, recuperar o atraso para outras cidades europeias aqui tão perto.
Como claramente quem chegou ao poder há 10 anos, não chegou ao poder ontem, não se pode queixar da falta de tempo. Em 10 anos, em 120 meses, em 2 mandatos e meio, dá para fazer muita coisa. Sevilha, Vitoria Gasteiz, Donostia, Pontevedra (para dar exemplos distintos, mas da vizinha Espanha) fizeram mudanças que aconteceram entre 18 e 36 meses. Num mandato estas cidades revolucionaram os seus espaços públicos. Barcelona e Paris readaptam os seus espaços de uma forma continuada.
Os factos deitam por terra os argumentos, que embatem de frente na realidade:
- 10 anos não é de um dia para o outro. É muito tempo e dá para mudar muita mais coisa do que aquilo que foi mudado.
- As pessoas querem mudar de hábitos, mas demonstrada e comprovadamente têm medo de andar a pé e de bicicleta, e de transporte público não têm certeza da hora a que chegam porque ficam no meio do trânsito – e as paragens de ida e volta são confusas.
- 1.200.000.000 – mil e duzentos milhões de euros é muito dinheiro e, se a prioridade desde o início tivesse sido a mobilidade, dava para muita coisa – ainda lhe podem somar os 100 milhões do BRT e de outros financiamentos que já receberam.
A mobilidade induz-se, mas é preciso readaptar o espaço público para isso. A realidade deita sempre por terra qualquer propaganda. Talvez seja tempo de mais amor e serviço público.