Cerca de 150 mil pessoas residem nas 12 freguesias que compõem a cidade de Braga. Os carros são um bem privado e, como tal, cada um de nós tem o dever de garantir que temos lugar para o mesmo quando os adquirimos. Se temos mais do que um, deviamos ter mais do que um lugar nosso para o guardar. Afinal de contas, se tivermos muitos pares de sapatos e não tivermos lugar para os guardar em casa, também não vamos exigir ao Município um armário no espaço público para os guardar, ou vamos?
Hoje, em Braga, temos 100 parques de estacionamento (off-street parking) dentro dos limites da cidade. Totalizam mais de 30 mil lugares de estacionamento, aos quais se juntam os lugares de estacionamento nas ruas da cidade e os lugares de garagem dos prédios e moradias.
Apenas 4 destes off-street parking são geridos pelo Município: o da Cangosta da Palha, o do Edifício do Pópulo, o do antigo quartel dos Bombeiros Sapadores e o que está por trás do edifício do Presidente da Câmara. Apenas o da Cangosta da Palha é pago, sendo que os restantes três são gratuitos e de utilização exclusiva dos funcionários do Município. A maior parte das ruas à volta destes parques são pagos. As pessoas que trabalham e decidem o que fazer ao nível da mobilidade têm passe e estacionamento gratuito. A maioria vai de carro. Há até quem faça 500 metros de carro. Olha para o que eu digo, não para o que eu faço…
A política de estacionamento do Município para quem mora ou trabalha na zona do centro histórico aparenta ser uma política de utilizador pagador. Mas só aparenta.
A cobertura de ruas pagas é demasiado escassa. Em 6 freguesias temos 27 mil lugares de estacionamento, sendo que não chegam aos 2000 os lugares pagos. Falta uma lógica de progressão na zona paga e uma lógica de equilíbrio da procura, através do controlo da oferta. Quando nem a zona mais densamente povoada e com mais serviços per-capita da cidade, é controlada por parquímetros, está muita coisa dita sobre a política de gestão do estacionamento: Não existe.
Por norma, o preço do off-street parking é inferior ao preço do on-street parking. Este critério tem lógica, quando a política de mobilidade da cidade pretende libertar o espaço público, libertando assim as ruas de carros estacionados que apenas ocupam espaço. A juntar a isso tem de existir uma fiscalização eficiente e, sobretudo, um design urbano que impeça o estacionamento proibido.
Dos 100 parques de estacionamento que existem na cidade de Braga há dois, que são os da Avenida Central e o do Campo da Vinha, que não são concessionados, os terrenos foram permutados. Ou seja, nestes dois parques, o terreno subterrâneo é privado, e a superfície é pública. Na permuta o Município recebeu (apenas) uma % dos lugares de estacionamento, que entretanto doou porque supostamente não faziam falta. Mas hoje em dia a Polícia Municipal recolhe os carros rebocados para um desses parques e… paga uma taxa ao dono do parque por essa ocupação.
Uma Política de Estacionamento pode fazer com que pensemos na escolha do modo de transporte para uma determinada deslocação, libertará o espaço público e controlará a procura. Não basta dizer que queremos ter uma cidade e uma mobilidade sustentável.
A infraestrutura é condição necessária para a mudança de comportamentos.
A mobilidade induz-se.