Lisboa, Porto e Braga levam a que o Estado Português – ou seja todos nós – tem agora que pagar uma avultada multa à União Europeia devido à poluição atmosférica.
A poluição do ar mata cerca de 400 mil europeus por ano. Em Portugal, a poluição do ar é responsável por cerca de 6 mil mortes anuais. Este é um número cerca de 10 vezes superior ao das vítimas de sinistros rodoviários.
A somar a isto, cerca de 15 mil mortes em Portugal são devido ao sedentarismo e falta de exercício físico.
O excesso de uso do carro nas cidades, sobretudo em pequenas deslocações, é apontado como o principal responsável pelas mortes que decorrem da poluição do ar e da sinistralidade.
Estamos já a falar de cerca de 22 mil mortes por ano que podiam ser evitadas. Por isso, várias são as cidades que têm vindo a redistribuir o espaço público e apostado em força nos modos de transporte que ativam o corpo: andar a pé, de bicicleta, de skate, de patins, de trotinete (sem motor) e outros.
Em Braga temos a obrigação de reconquistar algum do espaço público aos carros que tanto dano nos fazem e nós temos vindo a permitir. E temos a obrigação não só por nós, mas pelos nossos filhos e pelo futuro. Se queremos ter adultos capazes, responsáveis, autónomos, temos que potenciar as suas deslocações em autonomia. Temos que lhes dar essa liberdade, confiança e responsabilidade, mas temos que lhes garantir o mínimo risco e a máxima segurança.
Sabemos que as principais escolas da nossa cidade à volta de um eixo que já teve aprovado em reunião de executivo um projeto em que a redistribuição do espaço público previa, e bem, a criação de ciclovias unidirecionais segregadas, vias dedicadas BUS e duas vias de trânsito: A Rodovia. É, aliás, o único projeto conhecido e aprovado até ao momento para a rodovia. Esperemos que qualquer coisa que ali se faça continue a contemplar as ciclovias que permitirão às pessoas circularem em segurança por aquele que, demonstrada e comprovadamente, é o eixo mais procurado pelas pessoas que andam de bicicleta em Braga e que ainda não tem infraestrutura dedicada.
Para isso é preciso reconquistar o espaço, que outrora foi das pessoas. Precisamos de frentes de escola descarbonizadas, sem carros, só com pessoas em modos ativos (sobretudo a pé e de bicicleta) e de transporte público. E aqui, professores e associações de pais têm uma responsabilidade acrescida.
Permitir que os carros continuem a chegar às frentes de escola é permitir:
– Que as nossas crianças continuem a inalar material particulado, bem como dióxido de carbono e óxidos de azoto, muito acima dos valores limites para a saúde pública.
– Que as nossas crianças sejam dependentes e se aglomerem montes de carros à porta das escolas.
– Que as nossas crianças que querem ir de uma forma ativa, não o consigam fazer de forma segura, porque os passeios estão cheios de carros estacionados, o estacionamento, a agressividade da condução, o ambiente urbano à porta das escolas é caótico e inseguro nas horas de entrada e saída.
Retirar os carros da porta das escolas é o caminho que a Europa segue há mais de meio século. No último ano com mais força nas cidades Francesas e Espanholas, com muito ênfase para Paris que tornou 185 ruas em zonas de trânsito limitado (como toda a zona central de Braga é). E o que têm essas ruas em comum? Frentes de escola. Os alunos fazem os últimos metros a pé.
As crianças precisam andar a pé e de bicicleta na cidade. Desperta-os, torna-os mais ativos e mais atentos nas aulas, diverte-os no caminho, deixa-os saudáveis, autónomos e conhecedores das nossas ruas e avenidas. Não lhes faz mal deslocarem-se, nem que sejam os últimos 50 metros do percurso, a pé.
Precisamos voltar a ter crianças e adultos nas nossas ruas, avenidas e praças. Precisamos de reconquistar algum do espaço público que perdemos nas últimas décadas.
Aqueles que são o futuro da nossa cidade precisam de ter segurança nas ruas e avenidas para poderem deslocar-se para as escolas, com o mínimo risco de não lá chegarem. Hoje o risco é demasiado alto, demasiado inaceitável. Ficamos sempre com o coração nas mãos.
O espaço público reconquista-se. A mobilidade induz-se.