default

Tem-se ouvido os responsáveis pelo projeto a tentar justificar o injustificável dizendo que “o PRR só financia o BRT e não financia ciclovias”. O projeto de redesenho das Avenidas será de fachada a fachada e se o projeto “só” financiasse o BRT, então também seriam boas notícias, porque grande parte do financiamento necessário para a requalificação das avenidas estaria já garantido. 

Se é esse o argumento, então faça-se o projeto global de reorganização das Avenidas de Braga, incluindo as ciclovias, a reorganização das redes enterradas, a inserção urbana do BRT. Separe-se, de seguida, o que é financiado pelo PRR e o que não é. O que não for financiado pelo BRT, das duas uma, ou o Município assume o custo, ou entende-se com o Governo.

Certamente que no orçamento do Município ou no Orçamento Geral do Estado, haverá verba para fazer os necessários e fundamentais 10 km de ciclovias nestas Avenidas.

O PRR e o projeto do BRT financiam a inserção urbana. A inserção urbana cria novas referências urbanas, moderniza a memória coletiva nomeadamente pela salvaguarda de registos arqueológicos. O BRT é uma oportunidade para a cidade reforçar a sua imagem, de afirmar a cidade com elementos colocados na paisagem que a diferenciam.

Para além disso o BRT terá de compatibilizar com os percursos pedonais e cicláveis, bem como criar interfaces com o transporte coletivo e individual, para tornar a cidade um lugar mais amigável, mais seguro, mais humano e onde os negócios possam prosperar.

Mesmo que o PRR só financiasse o BRT, o que não é pouco, terá de deixar a cidade aberta ao futuro, indo ao encontro das suas políticas e da sua visão estratégica.

Quando vemos as cidades a fazer investimentos estratégicos e com visão, podemos pensar em Gaia, onde a Linha de Alta Velocidade Ferroviária terá uma estação enterrada em túnel em Santo Ovídio, onde se juntam todas as formas de intermodalidade incluindo ferroviária, parques de estacionamento para carros e bicicletas, uma central para autocarros e zona para táxis, criando uma nova centralidade.

Também em Braga a Linha de Alta Velocidade Ferroviária cruzará em túnel a Linha Porto-Braga em Ferreiros, mas se a autarquia abandonar a visão anunciada desde 2014 e integrada no PDM, abdica de uma oportunidade de ouro.

No Porto a nova travessia sobre o Rio Douro, que vai ligar a Casa da Música ao Arrábida Shopping, será exclusiva para peões, bicicletas e transportes públicos. O Porto aprenderá com o erro crasso da não introdução das ciclovias na Avenida da Boavista, que tem levado à contestação forte da sociedade civil, bem como a manifestações públicas de técnicos e especialistas na área da mobilidade.

Enquanto Coimbra sai à rua para se manifestar contra o erro histórico do encerramento da estação central, Braga afasta a estação da Alta Velocidade em direção a Tibães.

Em Barcelos o projeto das ciclovias não financiava os rebatimentos do transporte colectivo. Foi elaborado um projeto integrado que foi separado em duas candidaturas para o seu financiamento.

Braga podia ter aprendido e acautelado os rebatimentos de transportes coletivos na Variante da Encosta ou na Avenida da Liberdade. Braga pode aprender com os erros e não os copiar.

O Município de Braga tem vindo a juntar-se a várias redes de cidades de todo o mundo, a participar em colóquios e a visitar diversas cidades. Também não seria mau verem o que se passa nas cidades a menos de uma hora de Braga.

Se a obra de regeneração destas Avenidas de Braga, embaladas pelo BRT, não contemplar ciclovias, isso deve-se apenas a uma opção dos donos do projeto: O Município de Braga e os TUB. Não é porque o PRR não quer ou porque os técnicos que vão elaborar o estudo prévio dizem. É uma opção política, que consta no programa preliminar e que vai contra o que tem vindo a ser dito publicamente.

Um mau projeto obstaculiza o futuro. Um bom projeto precisa de ideias claras. A cidade está a contar com ciclovias nestas Avenidas há mais de 10 anos. Teve mais do que tempo para maturar. Quantos mais anos vai a cidade ficar à espera delas? Quantas mais vidas vão ser sacrificadas nestas Avenidas?

A mobilidade induz-se.