Tem-se vindo a reivindicar, ao longo dos últimos 12 anos, a intervenção nas avenidas que compõem a Rodovia e em algumas das suas transversais. A Rodovia é originalmente composta pela Avenida João Paulo II, a Avenida João XXI e a Avenida Imaculada Conceição, mas hoje estende-se a Oeste até à futura estação de Alta Velocidade, junto ao Apeadeiro de Ferreiros, e a Este com a Variante do Fojo, em direção à Póvoa de Lanhoso. Este é um eixo estruturante para a mobilidade ativa e sustentável da cidade de Braga.

Aquilo que se pede pode parecer estranho quando quem planeia a cidade só anda de carro, ou nunca visitou outras cidades na Europa e esteve atento ao espaço público. Quando andamos a pé, ou de bicicleta, facilmente percebemos que as Avenidas que compõem a Rodovia, em conjunto com as Avenidas que lhe são perpendiculares, são cruciais para qualquer deslocação na cidade de Braga. É que mesmo que não se queira deslocar em toda a Rodovia, acabamos sempre por precisar de usar partes da mesma para nos deslocar. É inevitável passar pela Rodovia no dia a dia.

No topo dos principais pólos geradores e atratores de Mobilidade estão as escolas. Na envolvente a estas Avenidas estão escolas primárias, básicas e quase todas as secundárias da cidade. E ainda se juntam outros estabelecimentos de ensino ou de apoio ao ensino.

É preciso devolver a cidade às pessoas e devolver as pessoas ao espaço público. É fundamental que para isso os nossos estudantes sejam autónomos nas suas deslocações, que conheçam a cidade, que saibam desenrascar-se, que saibam mover-se na cidade.

Tornando estas avenidas mais amigas das pessoas que andam a pé, de bicicleta ou de transporte público, que devem sempre ser o mais lineares possíveis, o mais diretos possíveis e, sempre, nos dois sentidos. É assim que se convidam as pessoas a utilizar outros modos de transporte: proporcionando-lhes qualidade, segurança, rapidez e vias livres na deslocação.

Se as Avenidas João Paulo II, João XXI e Imaculada Conceição (Rodovia) precisam de intervenção no sentido de as humanizar, de as tornar mais amigas de quem anda a pé, de bicicleta e de transporte público, também a Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires e a Avenida Padre Júlio Fragata necessitam dessa atenção.

Porquê? Porque estas ligam a Rodovia às zonas onde vivem mais pessoas por km2 em Braga e ligam duas das maiores superfícies comerciais de Braga, ao Hospital e às Sete Fontes.

Não é uma pretensão imediatista nem, tampouco, extremista. Não o é imediatista, porque estamos há 50 anos a ver estas alterações pela Europa fora. Não é extremista, porque o resultado final é a possibilidade de usarmos qualquer um dos modos de transporte. Extremismo é querer manter tudo como está, onde o uso do carro causa insegurança às pessoas que andam a pé e de bicicleta e atrapalha a rapidez e eficiência do transporte público. É necessária uma alteração, para aumentar a qualidade de vida das pessoas que vivem e se deslocam na cidade, que usufruem da cidade.

Esta é uma pretensão que salva vidas, porque reduz a sinistralidade, aumenta a saúde de quem passa a deslocar-se de forma ativa para o trabalho, casa, escola ou simplesmente no dia-a-dia, e retira stress da cidade.

Além disso, melhora a saúde de quem vive ao longo destas avenidas. Acalmar o tráfego naquelas avenidas e reduzir o ruído e a poluição ambiental, aumenta a saúde física e mental de quem ali mora e de quem por ali passa.

O Município chegou a prometer, com pompa e circunstância, que ia “humanizar a Rodovia”. Há responsáveis políticos, presidentes de Junta e de Empresas Municipais, que dizem, orgulhosamente, ter impedido a redistribuição do espaço na Rodovia para melhorar as condições para quem utiliza a bicicleta e o transporte público. Estes desconhecem fenómenos como o Traffic Evaporation e as transferências modais que resultam de alterações infraestruturais. São os velhos do restelo que Camões nos fala nos Lusíadas.

Continuará a existir espaço para o carro, mas será mais difícil andar a mais de 50 km/h nestas ruas. Também em Braga se dará o fenómeno de Traffic Evaporation, que acontece em todas as cidades do Mundo que fazem redistribuição do espaço público. O último caso mais mediático e comprovado deste fenómeno é Barcelona, mas também em Nantes, em Paris, em Freiburg im Breisgau e noutras cidades Europeias isso se sentiu. Até no Porto, quando o Metro entrou em funcionamento, esse fenómeno aconteceu. Basta recordar como era o tabuleiro superior da Ponte D.Luís I, antes de conseguirem colocar o mesmo exclusivamente para o metro. Um ato corajoso e revolucionário na mobilidade, à época.

As pessoas continuarão a viver a cidade, a deslocar-se, a utilizar estas grandes avenidas de outras formas mais eficientes, mais saudáveis, mais amigas, mais sustentáveis. E a cidade torna-se mais atrativa.

Deixaremos, certamente, de lamentar mortes ou feridos, de chorar pelo susto que temos quando sabemos que uma pessoa que nos é querida foi atropelada, ou pela dor de a perder. Teremos avenidas muito mais amigas das pessoas. Teremos uma cidade pelas e para as pessoas.

Antes de dedicar tempo a algumas mudanças comportamentais, é preciso reorganizar a infraestrutura e criar as condições para essas alterações. 

A infraestrutura é condição necessária para a mudança de comportamentos.

A mobilidade induz-se.