Os responsáveis políticos têm tido a política de redução do tarifário, com o objetivo de aumentar a quota de deslocações em transporte coletivo, reduzindo a quota modal do carro. 

Quando há títulos de transporte mais baratos, há uma comparticipação, um subsídio à exploração, que é pago à empresa que opera o serviço. É uma forma de garantir a operação, pois há contas para pagar dentro da empresa. Numa empresa municipal, se a receita dos subsídios à exploração for superior a 50% da receita da empresa, então a empresa tem de ser dissolvida. 

É certo que quando se diz que o transporte público vai ser gratuito para o utilizador, o que se está a dizer é se vai encontrar outras fontes de financiamento do transporte público coletivo urbano. O custo social do transporte é sempre transferido, nunca reduzido. Ou seja, a sociedade, o cliente, se não paga de uma maneira, há-de pagar de outra.

O preço é relevante na atratividade para o transporte público, mas é essa a medida que, por si só, leva as pessoas a mudarem de modo de transporte?

Se a medida for isolada, ou seja, se agora se tornar o transporte público gratuito e mais nada se fizer, o resultado final não vai ser uma relevante transferência modal para o transporte público urbano.

Repare-se, hoje em dia os TUB em Braga têm uma frota renovada, têm muita oferta a chegar à Estação de Comboios, bem como à Central de Camionagem, operam já a partir de parques periféricos (E’Leclerc, Minho Center, Nova Arcada) com frequências de 20 em 20 minutos e o passe normal custa 14€ por mês para a zona densa. No final do ano, num total de cerca de 146 milhões de deslocações, vão ter cerca de 13 milhões das deslocações efetuadas a bordo dos seus autocarros. Isto representa qualquer coisa como 8% de quota modal. Podemos aumentar o número de “passageiros transportados” (leia-se validações), mas isso não significa que estamos a ganhar quota modal.

Ou seja, apesar dos números absolutos estarem a crescer, o transporte público urbano não está a ganhar “clientes” ao carro. Os números mostram-nos isso, mas basta andar na cidade para nos apercebermos de que há mais carros a circular na cidade.

Qual é a forma de ter o transporte público com maior quota modal, com efetivamente mais utilização nas deslocações diárias?

É necessária uma forte aposta na qualidade dos serviços prestados, sendo que a prioridade deve ser garantir que o traçado da rede é direto, legível, permite ter boas velocidades comerciais e garante ao cliente que, do ponto A ao ponto B se demora sempre o mesmo tempo.

A variação do preço não vai trazer alterações à quota modal enquanto se mantiver os serviços de autocarros com muitos atrasos, por circularem no meio do trânsito, e não se garantir que o tempo de viagem é sempre o mesmo, e que é mais rápido ir de transporte público do que de carro.

A atratividade não se consegue apenas pelo preço dos transportes públicos. Consegue-se ao garantir, primeiro, um serviço fiável, eficaz, eficiente, sem avarias, que cumpre horários, onde a infraestrutura existente permite cumprir esses horários e onde a infraestrutura não atrai/obriga ao uso do carro por ser mais eficaz e eficiente que o carro. As linhas têm de ser de fácil leitura, que circulam em ambos os sentidos na mesma rua, permitindo a legibilidade dos serviços, a realização de mapas e uma boa percepção por parte dos clientes.

Se em Braga é difícil explicar ao cliente que linhas apanha, onde, e como faz no sentido contrário, a culpa não é de quem opera o serviço. É de quem é responsável pela infraestrutura e condiciona, muito, essa operação. 

A cada nova obra vemos novos condicionalismos. Vemos situações contrárias à promoção do transporte público. Por exemplo, continua a não ser possível um autocarro percorrer a totalidade da Avenida da Liberdade nos dois sentidos, obrigando os passageiros a andar 750 metros até à Avenida 31 de Janeiro para fazer o percurso de volta, quando deveria apenas atravessar a Avenida de um lado para o outro do passeio. Ou continua o caos da Rua Nova de Santa Cruz, onde a Câmara retirou, à revelia dos TUB, um dos sentidos do transporte público, obrigando os passageiros a andar 400 metros até à paragem de regresso, por sítios que por vezes nem passeios tem, quando antes a paragem era 6 metros do outro lado da rua. Estas alterações fazem o contrário da promoção do uso do transporte público: dissuadem o uso do transporte público.

As políticas públicas para a promoção do uso do transporte público em Braga falharam e continuam a falhar. E por muita optimização ou novos serviços que os TUB tragam, sem a Câmara a melhorar a infraestrutura e garantir, efectivamente, a prioridade do transporte público, nunca haverá uma maior atratividade e transferência modal para este modo de transporte.

Há mais pessoas a usar o transporte público, mas há muitas mais pessoas a usar outros modos de transporte, e isso deve-se a políticas municipais, muitas vezes contrárias ao esforço da operadora. 

A mobilidade induz-se.