A cidade dos 15 minutos é um conceito de Carlos Moreno, urbanista franco-colombiano e Professor na Sorbonne em Paris. Em suma defende que numa cidade deve ser possível fazermos a nossa vida num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta, mas o conceito é muito mais do que isso, é um conceito sobre a socialização, sobre os poderes na cidade, sobre a modernidade e a multiculturalidade, para acabar com a segregação e as desigualdades. Na Europa o conceito está já a ser implementado em cidades como Paris (França), Utrecht (Holanda), Cagliari (Itália), Pontevedra (Espanha) e Barcelona(Espanha), neste último com as superillas. Fora da Europa foi implementado o conceito de cidades de 20 minutos em Portland (Oregon USA) e em bairros de Xangai (China), Otawa (Canadá) ou Melbourne (Austrália).

Lê-se agora que o PDM de Braga está novamente a ser revisto e promete-se um crescimento da capacidade construtiva em 10%. Uma cidade que quer ter futuro e que diz ter uma visão da “cidade de 15 minutos” precisa de ser uma cidade densa, com espaços verdes próximos, onde tudo é possível fazer em 15 minutos a pé ou de bicicleta. Isso implica ter cidade em altura. Se centrarmos a Rotunda das Piscinas e traçarmos uma circunferência com um raio de 4 km, percebemos que temos aí a cidade de Braga concentrada. Fora dessa circunferência temos população a viver, mas os problemas de resolução mais prioritária concentram-se 4 km à volta da Rotunda das Piscinas.

A distância de 4 km percorre-se em 15 minutos de bicicleta como deslocação urbana. Devia ser um percurso eficaz e eficiente de percorrer em transporte público e mais rápido do que fazê-lo de carro. Não é. O carro tem toda a prioridade, onde até os cruzamentos são desnivelados,e não há grandes obstáculos ao longo do percurso. Já os transportes públicos, as bicicletas e os peões andam no que sobra, sempre pelo caminho mais longo para não trazerem qualquer tipo de atraso ao carro, acabando sempre mal tratados na distribuição do espaço público.

A cidade deve ser densa porque facilita as deslocações entre os vários pontos de interesse, permite ter deslocações sustentáveis, permite fazer a vida sem se estar refém de um carro, permite impermeabilizar uma menor área do solo e assim ter consequências menos graves das alterações climáticas. Permite também um menor investimento nas redes e permite ter uma maior vida em comunidade.

A densidade é a condição prévia para a democracia! Porque uma cidade densa concentra mais pessoas diferentes num menor espaço, o que leva a que estas convivam, discutam, debatam, encontrem pontos em comum e assim criem uma comunidade. Não é uma densidade guetizada, é uma densidade multicultural. Quando as cidades se espraiam, maior são as desigualdades, mais os ricos e os pobres ficam distantes, e estes últimos muitas vezes esquecidos e guetizados. A distância segrega as classes e as culturas, no que ao espaço diz respeito. A cidade moderna é a cidade densa, é a cidade multicultural, é a cidade em que as pessoas respeitam e convivem com as suas diferenças.

A cidade densa é sobre muito mais do que urbanismo, deslocações, mobilidade, arquitetura, circulação. É sobre pessoas, sobre vida, sobre liberdade, sobre felicidade, sobre interações e sociedade.

Uma cidade densa deve também ter pelo menos um espaço verde a menos de 350 metros das habitações, e não falo de rotundas, que estão classificadas no PDM como espaços verdes, falo de parques, de locais para parar, para sentar, para estar, para relaxar, para ouvir a cidade.

É importante pensar como será a cidade do futuro, a que ainda não está construída, a nível das habitações, mas também a que está construída ao nível da rua, da forma como as pessoas se deslocam e dos espaços que as pessoas têm para poderem parar, relaxar, estar, conversar.

Braga tem a oportunidade de criar novas centralidades, mas para isso é preciso pensar onde vão ser localizadas essas centralidades e que modos de transportes e infraestruturas construiremos para servir as novas zonas da cidade. Isso é pensar no desenvolvimento de forma orientada à Mobilidade. Não falo de criar estações beterraba no meio dos campos de Semelhe ou Tibães, mas sim de resolver problemas na cidade em terrenos expectantes há muitos anos, como seja a Quinta dos Peões, sem comprometer a estrada nacional, ou na Fábrica Sarotos, ou em frente à fábrica de Sinos, ou no Novainho ou até na envolvente do Apeadeiro da CP e futuro interface de Alta Velocidade de Ferreiros.

Não poderá ser só betão, mas também espaços verdes, retirar as passagens aéreas na Rodovia, na Júlio Fragata e permitir às pessoas comunicar entre os dois lados das Avenidas. É fazer cidade orientada à mobilidade sustentável, orientada ao transporte, num conceito de “TOD – Transit Oriented Development”.

A cidade pode e deve ter negócios imobiliários sem operações puramente especulativas. É possível fazer crescer a cidade e prepara-la para um futuro com mais população de forma séria. A cidade não é só um espaço físico, é também um espaço económico, de memórias, de histórias e um espaço vivo.

Qualquer urbanista sabe que a solução nunca passa por aumentar a capacidade do transporte individual, ou por esperar que as pessoas mudem de transporte com as condições atuais, mas sim por redistribuir o espaço dando-o também, com condições de segurança e prioridade, a quem anda a pé, de bicicleta e de transporte público. A mobilidade induz-se.