Esta é a pergunta que terá de ser respondida para depois se poder trabalhar nas soluções de mobilidade. Que Braga queremos?

Hoje, no concelho de Braga, ultrapassamos os 202 mil habitantes. Se fizermos uma circunferência centrada na rotunda das piscinas, com um raio de 22km, temos 7 concelhos e praticamente 700 mil habitantes. É uma massa crítica considerável para uma área tão pequena. Faltam os projetos estruturantes para a mobilidade em toda esta área e liderança política para avançar com os projetos estruturantes.

Braga é o centro de uma região e esta região precisa de ferrovia, precisamos de uns suburbanos do Minho. Os Municípios podem e devem reservar em cada um dos seus Planos Diretores Municipais os espaço canal para essas ligações. Para além disso podem dar início aos projetos para estas ligações. Não falta massa crítica para isso, falta rasgo e vontade política. 

Depois de ter os projetos prontos, encontram-se os fundos para financiar os mesmos. É por isso que muito do investimento em transportes e mobilidade acaba sempre por ficar em Lisboa e no Porto: têm os projetos prontos.

Ainda assim, enquanto estes projetos avançam, pode-se ir investindo em medidas rápidas, eficazes e que dêem resposta às ligações entre estes concelhos. E para dar resposta precisamos de conhecer as deslocações, os movimentos que as pessoas fazem, os dados reais.

Sabemos que por Braga passam 2% de deslocações que nada quer com o Concelho e 19% entra ou sai do Concelho. Destes 19% a maior parte é entre Braga e os concelhos vizinhos. Uma boa rede de transportes públicos interconcelhia permitiria retirar pressão da rede rodoviária e libertar o espaço público, mas é preciso que a infraestrutura esteja preparada para isso. A resposta à pergunta do título é feita também pela oferta de infraestrutura que temos a nível interconcelhio. Braga não deve viver isolada dos concelhos vizinhos a nível de transportes públicos, de ligações cicláveis e pedonais. Quando começar a trabalhar a mobilidade em rede, com sentido público, vai perceber os enormes ganhos que tem para o território e para a sua população. 

Este trabalho devia estar a ser coordenado pela CCDR-N – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e operacionalizado pelas CIM – Comunidades Intermuniciais, pela Associação de Municípios Pentágono Urbano (antigo Quadrilátero) e pelos Municípios. Devia.

Ao mesmo tempo que se lida com a mobilidade interconcelhia, que precisa de passar a ser mobilidade e deixar de ser apenas trânsito automóvel, é preciso lidar com a mobilidade dentro do próprio Concelho de Braga.

Se nos anos 80 os projetos eram de megalomanias automobilísticas, isso já não acontecerá, ou não deveria acontecer, neste século. 

Enquanto que em Braga há quem decida colocar rails na principal Avenida da Cidade, a Avenida Padre Júlio Fragata, em Vigo, a Avenida de acesso à cidade está a ser transformada para acabar com o separador central e tornar a mesma mais segura, com menos velocidade e mais humana. Isto porque as passadeiras com semáforos já lá existem há muitos anos.

Já por Braga continuamos com excessos de velocidade registados pelo Município de Braga e com um número inaceitável de atropelamentos, de mortes e feridos nas ruas. Veremos se continuam a dizer que os atropelamentos são “azar”, se continuam a querer investir em avenidas, túneis e viadutos, ou se finalmente apanham a onda da Europa e se dizem que vão efetivamente acalmam as Avenidas, tornando-as espaços onde as pessoas podem andar a pé, de bicicleta e de transportes públicos.

Afinal, que Braga queremos? Uma Braga onde o carro ocupa 80% do espaço, mata, fere, aleija, causa trânsito, stress, poluição, ou uma Braga com espaço para todos, mais calma, sem mortos e feridos, com maior capacidade de deslocação de pessoas?

Quem prometer variantes para rasgar o Bom Jesus ou ligações para Norte exclusivamente rodoviárias, ou um Nó de Infias sem solução para a mobilidade sustentável, não estará a resolver os problemas da mobilidade urbana de Braga, estará a piorá-los. Este é o tempo do transporte público, da bicicleta e das acessibilidades pedonais. A era da aposta exclusiva nas infraestruturas para o automóvel terminou, porque há muito que se chegou à conclusão que essa aposta falha sempre.

É a partir da mobilidade e do urbanismo, que vamos definir que Braga queremos. A mobilidade induz-se, mas qual se vai induzir?