Vivemos em cidades, e num país, que estimula o uso massivo e constante do automóvel. A emergência climática vem acelerar um processo de mudança nas formas de mobilidade das cidades que, na verdade, tem níveis diferentes de progressão: Cidades campeãs, cidades em crescimento, cidades principiantes.
Dentro destes níveis de progressão há, também, diferentes áreas de atuação. Incentivar a utilização de modos de transporte através da infraestrutura, reorganizando o espaço público, é uma condição absolutamente necessária e até poderá ser suficiente, se a mesma for bem elaborada. Não podemos pintar um passeio de vermelho e dizer que temos uma ciclovia, as intervenções precisam de ser bem feitas para estimular o seu uso.
A par da reorganização da infraestrutura há, depois, várias medidas que se podem e devem ir tomando para que as pessoas adotem a utilização da bicicleta como modo de transporte. A título de exemplo, o Governo tem vindo a financiar, e bem, a aquisição de bicicletas. No entanto não se consegue perceber o verdadeiro impacto desta medida nas deslocações, ou seja, as pessoas compram as bicicletas usufruindo do apoio, mas depois utilizam-nas?
É então aqui de destacar uma das muitas medidas que a FPCUB – Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, tem vindo a propor ao longo dos anos: A criação de um incentivo financeiro para utilização da bicicleta de 0,24€/km pedalado por pessoa, com um limite máximo anual de 600€/pessoa. Daria qualquer coisa como 2500 km pedalados por ano.
Esta medida não é nova na Europa. Na Bélgica, na Holanda, na Inglaterra e na França é recompensado, financeiramente pelo Estado, quem se desloca de bicicleta como modo de transporte. Na Andaluzia ao invés de uma recompensa financeira, o Governo Regional implementou um reforço do número de dias de férias. O projeto-piloto Andaluz levou a que, em 2014, se evitassem 35 mil toneladas de emissões de CO2.
Claro está que a par desta medida outras serão necessárias, e aí contamos que o Governo reforce, financie e delegue no IMT o que for necessário para colocar a Estratégia Nacional de Mobilidade Ativa em ação, para que consigamos ter cidades mais amigas das pessoas que andam a pé, de bicicleta e de transportes públicos.
Olhando para o futuro é inevitável que o preço dos combustíveis continue a subir. Esta seria então uma boa altura para promover a utilização de modos de transporte sustentáveis como o andar de bicicleta ou o andar de transporte público, ao invés de continuar a financiar a utilização do automóvel através do AUTOVoucher.
É altura do Governo implementar medidas financeiras de incentivo da utilização da bicicleta e dos transportes públicos.