O BRT – Bus Rapid Transit é a opção política deste Presidente de Câmara para o transporte público de alta capacidade, após abraçar a ideia trazida em 2012 para Braga por Baptista da Costa. Na Europa chama-lhe outros nomes: BHLS – Bus with High Level of Service, ou BHNS – Bus de Haute Niveaux de Service. Em Português a tradução literal seria AANS – Autocarro com Alto Nível de Serviço. Para simplificar usarei BRT ao longo do texto.
A pergunta que toda a gente quer ver respondida é: como vai ser o BRT de Braga? Assisti a duas apresentações do “projeto” do BRT de Braga. Escrevo “projeto”, entre aspas, porque aquilo que foi apresentado não passou apenas de dois desenhos de duas linhas feitas a marcador, com cores diferentes, e não propriamente um projeto. Colocaram ainda na apresentação o número de paragens, dizendo “que serão mais para a frente ou mais para trás” e a percentagem de percurso em canal próprio, que nunca explicam como calcularam, visto dizerem que não há projeto. Confuso.
Diz-se que a primeira linha passará pela Av. António Macedo, Avenida Padre Júlio Fragata e Frei Bartolomeu dos Mártires, repondo a transição da Rua Nova de Santa Cruz com semáforos.
Não dizem se “prolongam” a trincheira existente na Rotunda das Piscinas, tornando-se a Avenida Padre Júlio Fragata uma ainda maior barreira e um ainda maior foco de poluição do que já é, ou se acabam com o túnel e o viaduto da Rotunda das Piscinas e fazem ali um verdadeiro centro da cidade, com soluções de nível, modernas e deste século. Só a solução para o centro do concelho de Braga, que é a Rotunda das Piscinas, merecia muita mais discussão pública, partilha, colaboração e envolvimento.
Alguém imagina os Campos Elíseos com uma trincheira para os carros? O caminho é o inverso, o caminho é acabar com essas “soluções” que se provaram erradas para o problema da mobilidade de uma cidade e que nos trouxeram até ao estado atual. Aliás, entrincheirar os carros é dar-lhes vantagem e atrair ainda mais pessoas para o seu uso. Entrincheirar um autocarro é trazer mais problemas do que soluções. Afinal, o objetivo não é dar vantagem ao Transporte Público?
Todo este eixo vai passar a ter também ciclovias diretas, contínuas, seguras, cómodas, a produzirem o efeito de rede e potenciar o uso da bicicleta como modo de transporte, tal como preconizado no Plano Diretor Municipal, documento estratégico da cidade?
Será que o BRT vai ser o projeto de regeneração urbana destas Avenidas, como estava anunciado? Para além da estranha decisão política de mudança de traçado, o BRT já não vai regenerar toda a largura e perfil das Avenidas por onde vai passar?
A política de mobilidade em 2015, divulgada em suplemento neste jornal, era que o BRT iria regenerar as Avenidas de Braga, melhorar passeios, introduzir ciclovias, semáforos que dessem prioridade ao transporte público, canal dedicado para o transporte público e aumentar o número de árvores nestas Avenidas. Já não será assim? Porquê?
Como serão as passagens para peões nestas avenidas, de nível e semaforizadas? Permitirão o atravessamento de toda a avenida, desde o passeio de um lado até ao passeio do outro lado? Conseguiremos descer o cemitério e atravessar, a pé, a Avenida Padre Júlio Fragata, numa passadeira de nível até ao Braga Parque? Ou estar na Rua José António Cruz e atravessar de nível para chegar à Praça Paulo Vidal? E em que locais serão estas passadeiras?
Tudo guardado no segredo dos deuses. Será que não sabem mesmo o que vão fazer? Se sabem, projeto ou critérios, porque não colocam à discussão pública?
Há ainda muitas perguntas para responder. Demasiadas para esta altura. E esta é uma oportunidade que a cidade devia agarrar, ouvindo e envolvendo todos, com discussão pública e pensando numa verdadeira revolução da Mobilidade. Já ninguém aguenta tanta fila de carros, tanto atropelamento, tanta morte de peões e ciclistas, tanta poluição que nos levam a condenações do Tribunal Europeu e tanto atraso no transporte público.
Será que só vamos ter umas “linhas vermelhas” versão BRT? Ou teremos um projeto com o nível de exigência que esta solução precisa para não ser um flop? Daqui a 15 dias há mais.