De ano para ano acumulam-se desastres nas cidades: atropelamentos, colisões e despistes. De ano para ano acumulam-se vítimas, sejam mortos ou feridos. Ao longo do tempo, pouco se tem feito para parar a acumulação de sinistros e de vítimas das nossas ruas e avenidas. Os registos demonstram que 80% destes sinistros se dão dentro das localidades, pelo que a solução tem de ser encontrada dentro da zona urbana.
Não há qualquer dúvida que a responsabilidade dos sinistros cabe aos envolvidos. Que há comportamentos proibidos e errados das pessoas, que enquanto seres humanos erram.
Sabemos que o excesso de velocidade, o uso do telemóvel e o consumo de álcool são o top 3 das causas dos sinistros nas estradas.
O tipo de estradas que temos, o desenho das ruas e avenidas, levam a determinado tipo de comportamentos. Estradas largas, com as linhas longitudinais mais grossas e mais longas, em que não se vê quem vem em sentido contrário, sem semáforos nem passadeiras, com vias de trânsito largas, resulta em velocidades muito acima dos limites previstos por lei.
Em pleno centro das cidades, as Avenidas não devem ter sebes, nem rails, como separadores centrais! O separador dá a percepção errada de segurança, passando a mensagem errada ao condutor de que o risco de colisão é diminuto e proporcionando o aumento de velocidades e de risco de sinistro.
A existência de separadores centrais é associada pelos condutores a vias que possibilitam velocidades elevadas, sem cruzamentos de nível ou atravessamento por peões. Nestas condições um condutor tenderá a dirigir a sua atenção para pontos mais distantes da estrada e não processa dados relativos ao espaço próximo.
As Avenidas em pleno centro da cidade devem ter linhas contínuas a separar os sentidos, semáforos, passadeiras, vias bus e ciclovias. Essa é a forma de já ninguém ali circular a mais de 50km/h, levando a que a probabilidade de despistes tenda para zero.
Avenidas sem separadores, com as dimensões mínimas em termos de larguras de vias de trânsito, ladeadas por ciclovias e passeios, com semáforos e passadeiras, é percebida como uma via onde o risco de colisão com outros veículos, peões ou animais é elevado. Neste caso o condutor tenderá a distribuir a sua atenção por todo o campo visual e a integrar indícios do espaço próximo.
Em Braga, as sebes, as grades e os rails que o Município foi introduzindo, e teima em manter, servem apenas para que se tenha velocidade de circulação elevadas e acabem por dar ao condutor uma percepção errada das vias onde se está a circular.
Para além disso, em caso de despiste, a pessoa que conduz um veículo que circule em sentido contrário não tem qualquer hipótese de reagir. Não tem tempo de reação e quando se apercebe já o veículo que se despistou está a chocar com o seu veículo. As sebes, rails e grades em ambiente urbano são verdadeiras armadilhas urbanas.
Os rails e as sebes só são utilizados em locais onde as velocidades elevadas são permitidas. Nunca em pleno centro de uma cidade.
As Avenidas Imaculada Conceição, João XXI, João Paulo II, Júlio Fragata e Frei Bartolomeu dos Mártires são muitas vezes mencionadas como “vias rápidas”, mas não o são. São estas as Avenidas que hoje compõem o centro da cidade, e precisam de ser redesenhadas para dar a percepção correta a todas as pessoas que nela circulam.
Ao dia de hoje temos promessas de redesenho destas Avenidas que levarão, segundo quem promete, à introdução de ciclovias e vias dedicadas ao transporte público até dezembro de 2026. Faltam 33 meses, com a escolha de um novo líder municipal pelo meio. Até lá algumas medidas deveriam ser introduzidas para que as velocidades nestas avenidas pudessem ser respeitadas. Há pequenos ganhos que não põem em causa projetos maiores e que salvam vidas!
A mobilidade induz-se, e os comportamentos também.