António Maria Santos da Cunha foi Presidente da Câmara Municipal de Braga entre 1949 e 1961. Em 5 anos inaugurou a Avenida da Liberdade, uma obra de enorme envergadura, a Avenida Imaculada Conceição e a Avenida João XXI.

Naquele tempo a cidade tinha meia dúzia de automóveis, as duas Avenidas da Rodovia tinha estacionamento e ciclovia, e a Avenida da Liberdade tinha transportes públicos em sítio próprio.

À época o objetivo era induzir a mobilidade em automóvel. Julgava-se que esse era o caminho.

Vinte anos depois, nos anos 70, a Europa do Norte começou a aperceber-se que induzir o uso do automóvel era o caminho errado, e era preciso democratizar o espaço público, garantindo que o espaço até então dedicado ao automóvel teria que ser redistribuído entre a bicicleta, o transporte público e o carro.

No sul da Europa demorou mais um pouco. Em 1989, em Braga, já com Mesquita Machado a Presidente da Câmara Municipal de Braga, prolongou-se a Rodovia (com a Avenida João Paulo II) bem como a Av. Padre Júlio Fragata. Em 1993 inaugura-se a Av. Frei Bartolomeu dos Mártires e a Avenida António Macedo.

E é com a viragem do século que a maior parte da Europa começa a deixar de investir em infraestrutura para o automóvel, e passa a planear para as pessoas que andam a pé, de bicicleta e de transporte público.

Mas em Portugal não. Em Portugal continua a investir-se muito na infraestrutura para o carro. Ao entrar no século XXI começam a desnivelar-se os cruzamentos ao longo da Rodovia, a criarem-se mais grandes avenidas, mas apenas dedicadas ao carro, surgem as passagens aéreas pedonais em ferro. Tudo para o automóvel poder circular à vontade, prejudicando todos os outros modos.

Andava-se ao sabor do país, investindo como a maior parte do país investia, sem aproveitar para inovar e liderar a mudança.

Mas a mudança de paradigma algum dia haveria de chegar a Portugal. Lisboa é a cidade onde essa mudança é mais visível, com a reestruturação do espaço automóvel conseguiu aumentos de circulação da bicicleta na ordem dos 25%.

A título de exemplo, a Avenida Fontes Pereira de Melo (em Lisboa) tem uma dimensão semelhante à Avenida Imaculada Conceição, Avenida João XXI e Avenida João Paulo II (em Braga), entre 25 e 30 metros. O volume de tráfego nas duas Avenidas é também semelhante. Aliás, em Lisboa chega a ser até superior.

A diferença? A Avenida Lisboeta tem passadeiras, semáforos, ciclovias, vias BUS e termina na rotunda do Marquês! As Avenidas Bracarenses têm passagens aéreas e 80% do espaço dedicado ao automóvel, e a rotunda das piscinas é o cabo das tormentas para quem ali quer passar a pé, de bicicleta ou vá num transporte público.

Está na altura de transformar a Rotunda das Piscinas na nossa rotunda do Marquês, para que, por exemplo, um dia destes os adeptos do Braga possam ali festejar os seus títulos.
Está na altura de transformar as Avenidas da Rodovia em Avenidas com ciclovias e vias dedicadas ao transporte público. Aliás, o projeto aprovado em executivo municipal em 2017, há 4 anos, já prevê ciclovias e vias bus na Rodovia, “promovendo um esquema viário compatível com o BRT”.

Santos da Cunha precisou de 5 anos para revolucionar a mobilidade em Braga. Passados 8 anos, de quantos mais precisará o Presidente da Câmara para reorganizar e corrigir o que hoje sabemos terem sido erros?